Adeus ao Roque Santeiro com baixa geral de preços
06-09-2010 | Fonte: Jornal de Angola

Apesar do comunicado que dava por encerrado o mercado, ontem, o Roque Santeiro registou a afluência de centenas de pessoas, entre comerciantes e clientes. Enquanto alguns vendedores davam seguimento normal ao negócio, a maioria aproveitou o dia para desmontar as bancadas improvisadas que estavam ainda fixas no local.
Chapas de zinco, mesas de madeira, barrotes, ferros e outros utensílios de apoio às vendas foram seleccionados e recolhidos desde as primeiras horas do dia por grupos de bagageiros, os populares "roboteiros".
"Estamos a recolher tudo aquilo que os vendedores consideram ter ainda alguma utilidade", disse o jovem Joaquim, que, na pele de "roboteiro", deverá seguir o mesmo rumo dos vendedores. Só que não decidiu ainda se vai para o mercado do Panguila ou para o do Quilómetro 30, em Viana.
A possibilidade de um dia deixarem de vender no maior mercado a céu aberto do país nunca esteve nos planos de milhares de pessoas que, durante anos, fizeram do Roque Santeiro a sua fonte de rendimento.
No seio de populares e vendedores o fim do mercado ainda gera diferentes reacções. É o caso de Emanuela Neves que, no período da manhã, estava envolvida na venda de roupa usada e material escolar. Ao Jornal de Angola disse que tinha de aproveitar o último dia. Para se conseguir boas vendas todos os argumentos foram usados. "Aproveitem o preço de despedida do Roque Santeiro", foi uma das frases mais ouvidas.
Comerciante de mobília, com mais de 10 anos de ligação com o mercado, Manuel Lopes esteve apenas no mercado para testemunhar o seu fim. Ele é dos vendedores que vê no encerramento do mercado e consequente transferência dos vendedores para outros mercados de Luanda uma evolução em termos de condições, mas admite o seu receio com a falta de clientes.
"Estamos preocupados com a transferência porque nunca se sabe o que nos espera uma coisa nova", avançou.
Proximidade e saudades
Helena João, moradora das proximidades, e por conseguinte, cliente assídua do mercado, reconhece que, além das condições precárias, o local apresentava problemas de vária ordem, desde a criminalidade à prostituição. Por isso, acredita que o tempo vai dar razão aos que decidiram pelo seu encerramento. A mudança dos vendedores do Roque Santeiro para o Panguila e demais mercados municipais envolve também uma componente sentimental que, para os vendedores, é difícil ignorar. Ao longo do tempo, e fruto da convivência diária, o Roque Santeiro proporcionou grandes amizades e também inimizades. O semblante de Júlio Silva é o retrato fiel da tristeza. As vendas encerraram, mas já o vendedor sente a saudade das amizades conquistadas ao longo dos anos. "Nem todos vamos para o mesmo mercado e a verdade é que muitos estão tristes com esta transferência, porque criámos laços de convivência difíceis de descrever", desabafou.
No espaço que albergou o mercado durante mais de vinte anos ainda persistem as marcas que lhe atribuem um significado único. Bancadas destruídas e alguns objectos espalhados no terreno perfilam entre os destroços, à medida que aumenta a saudade.
Abraão Bondo, membro da equipa afecta à administração do Cacuaco, disse que o que se vive neste momento é decorrente da própria psicologia social e salienta que é impossível colocar um mercado num local que satisfaça todas as pessoas. "É próprio das circunstâncias, por isso acredito que, na devida altura, vamos ter a compreensão da população e dos vendedores", disse.
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